A arquitetura pode ser vista como um dos principais elementos de mediação entre os seres humanos e o espaço. Atravessando uma das mais importantes crises sanitárias do último século e em meio a uma onda de protestos em defesa dos direitos humanos, arquitetos e urbanistas têm a obrigação de pedir a palavra, de assumir a sua parcela de culpa e a sua responsabilidade. Ao conceber os espaços públicos de nossas cidades, é preciso combater as injustiças e promover espaços que promovam a empatia e compreensão entre as pessoas. Ao dar voz as histórias reprimidas e espaço às comunidades subjugadas, o desenho de um espaço público mais inclusivo é a chave para prover um lugar de reflexão sobre o nosso passado, que por sua vez, nos ajuda a construir um mundo mais justo e equitativo.
Espaços de interesse público atuam como a principal ferramenta de expressão social de uma comunidade, eles preservam as histórias do passado e propõe um espaço de reflexão sobre o nosso próprio futuro. Em tempos de tantas incertezas, catástrofes naturais, mudanças climáticas, crises sanitárias e acima de tudo, brutais atentados aos direitos humanos, espaços de interesse social capazes de resgatar memórias negligenciadas, de conscientização, compreensão e porque não, manifestação, passam a desempenhar um papel ainda mais importante para o futuro de nossa sociedade. Os seguintes projetos e artigos propõe uma reflexão sobre as muitas das crises que estamos atravessando, evidenciando a responsabilidade dos arquitetos ao construir espaços sociais.
O papel da arquitetura para a transformação social
Em uma exposição recentemente realizada no Centro de Arquitetura e Design de Seattle, intitulada “De Interesse Público”, Garrett Nelli procurou provocar a comunidade de arquitetos a prestarem mais atenção no papel social da arquitetura. Em suas viagens para Los Angeles, Alabama, Haiti, Itália e Nova Orleans, Nelli desenvolveu uma análise ampla sobre como o ambiente construído pode operar como uma ferramenta de transformação social.
CatalyticAction projeta parques infantis para crianças refugiadas no Líbano
A guerra civil na Síria obrigou milhares de famílias a deixarem suas casas em busca de lugares seguros para continuar suas vidas. Muitas famílias se mudaram para o Líbano, onde a ONU ergueu uma série de assentamentos informais. Embora eficaz no fornecimento de abrigo, eles não fornecem soluções específicas para crianças, muitas dos quais tiveram seus estudos interrompidos e não têm espaços públicos equipados para praticar esportes e interagir com outras crianças.
Preservando e promovendo o direito de protestar em Paris
Depois de ficar fechada por mais de três anos para reforma, a Place de la République foi finalmente reinaugurada em Paris, voltando a ser o mais importante palco social da capital francesa, um lugar onde historicamente, a população organizada se reúne para protestar e se fazer ouvir. Para os responsáveis pelo projeto (TVK), era importante não infringir as regras básicas deste espaço social, o qual para muitos parisienses é considerado o mais importante espaço público da cidade.
A arquitetura precisa de consciência social
Nos últimos anos, o mundo da arquitetura viu um aumento significativo no interesse por projetos com consciência social; da sustentabilidade à habitação social, de espaços públicos a projetos para áreas afetadas por desastres, a arquitetura está começando a enfrentar alguns dos maiores desafios humanitários de nosso tempo. Mas, apesar de sua popularidade, o projeto de interesse público é ainda apenas uma atividade marginal na arquitetura
Memorial Nacional da Paz e Justiça / MASS Design Group
O Memorial Nacional da Paz e Justiça ocupa uma área de mais de 24 mil metros quadrados da cidade de Montgomery, Alabama e é o primeiro memorial nacional construído em homenagem às vítimas de linchamento nos EUA. Em uma região onde ainda permanecem intactos muitos dos principais monumentos comemorativos aos heróis confederados, o Memorial Nacional da Paz e Justiça proporciona um lugar de memória que nada tem a ver com a imparcialidade daqueles monumentos brancos que ainda hoje servem apenas para comemorar um passado escravocrata representando um atentado aos direitos humanos em pleno século XXI. O novo memorial põe em evidencia o outro lado da história, propondo uma reflexão outra sobre um passado ainda não esquecido, promovendo a esperança e procurando curar as feridas através da reconciliação de toda uma comunidade.